Declaração introdutória à conferência de imprensa
Mario Draghi, Presidente do BCE,
Vítor Constâncio, Vice-Presidente do BCE,
Malta, 22 de outubro de 2015
Minhas Senhoras e meus Senhores,
É com muito prazer que o Vice-Presidente e eu lhes damos as boas-vindas a esta conferência de imprensa. Aproveito para agradecer a amável hospitalidade ao Senhor Governador Josef Bonnici e expressar a nossa especial gratidão ao pessoal do banco central de Malta pela excelente organização da reunião de hoje do Conselho do BCE. Passaremos agora a apresentar os resultados da reunião.
Com base nas suas análises económica e monetária regulares e em conformidade com as suas indicações sobre a orientação futura da política monetária, o Conselho do BCE decidiu não alterar as taxas de juro diretoras do BCE. No que respeita às medidas de política monetária não convencionais, as compras de ativos estão a decorrer satisfatoriamente e continuam a ter um impacto favorável sobre o custo e a disponibilidade de crédito para as empresas e as famílias.
O Conselho do BCE tem vindo a acompanhar de perto a informação disponibilizada desde a reunião no início de setembro. Embora a procura interna na área do euro permaneça resiliente, preocupações relacionadas com as perspetivas de crescimento dos mercados emergentes e as possíveis repercussões na economia da evolução dos mercados financeiros e de matérias-primas continuam a sinalizar riscos em sentido descendente para as perspetivas relativas ao crescimento e à inflação. Em particular, a robustez e a persistência dos fatores que estão atualmente a abrandar o regresso da inflação a níveis abaixo, mas próximo, de 2% no médio prazo exigem uma análise aprofundada. Face a este enquadramento, o grau de acomodação da política monetária terá de ser reexaminado na próxima reunião dedicada à política monetária, em dezembro, quando as novas projeções macroeconómicas elaboradas por especialistas do Eurosistema estarão disponíveis. O Conselho do BCE afirma a sua disponibilidade e capacidade para atuar, se tal se justificar, utilizando todos os instrumentos de que dispõe no âmbito do seu mandato, a fim de manter um nível adequado de acomodação monetária. O Conselho do BCE relembra em especial que o programa de compra de ativos proporciona suficiente flexibilidade no que concerne ao ajustamento da respetiva dimensão, composição e duração. Entretanto, continuaremos a implementar integralmente as aquisições de ativos no montante de €60 mil milhões por mês. Pretende-se que as aquisições de ativos se realizem até ao final de setembro de 2016, ou mais tarde se necessário, e, em qualquer caso, até considerarmos que se verifica um ajustamento sustentado da trajetória de inflação, compatível com o objetivo de obter taxas de inflação abaixo, mas próximo, de 2% no médio prazo.
Explicarei agora, mais em pormenor, a nossa avaliação da informação disponível, começando pela análise económica. O PIB real da área do euro aumentou 0.4%, em termos trimestrais em cadeia, no segundo trimestre de 2015, após uma subida de 0.5% no trimestre precedente. Os resultados para o segundo trimestre refletem os contributos positivos tanto da procura interna como das exportações líquidas. Os indicadores mais recentes com base em inquéritos apontam para um ritmo de crescimento real do PIB globalmente idêntico no terceiro trimestre do corrente ano. De um modo geral, esperamos que a recuperação económica prossiga, se bem que refreada, em particular, por uma procura externa mais fraca do que o antecipado. A procura interna deverá continuar a ser apoiada pelas nossas medidas de política monetária e pelo impacto favorável das mesmas nas condições financeiras, assim como pelos progressos alcançados em termos de consolidação orçamental e reformas estruturais. Além disso, a descida dos preços do petróleo deverá apoiar o rendimento disponível real das famílias e a rendibilidade das empresas e, consequentemente, o consumo privado e o investimento. No entanto, é provável que a recuperação da procura interna na área do euro continue a ser travada pelos ajustamentos de balanço necessários em vários setores e pelo ritmo lento da implementação de reformas estruturais.
Os riscos quanto às perspetivas de crescimento para a área do euro permanecem no sentido descendente, refletindo sobretudo incertezas acrescidas relacionadas com a evolução das economias dos mercados emergentes, que têm o potencial para continuar a pesar sobre o crescimento mundial e a procura externa de exportações da área do euro. A maior incerteza manifestou-se recentemente na evolução dos mercados financeiros, o que pode ter repercussões negativas para a procura interna na área do euro.
De acordo com o Eurostat, na área do euro, a inflação homóloga medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) situou-se em -0.1%, em setembro de 2015, tendo descido face a 0.1% em agosto. Em comparação com o mês anterior, tal refletiu principalmente uma nova descida da inflação dos preços dos produtos energéticos. Com base na informação disponível e nos preços atuais dos futuros de petróleo, as taxas homólogas da inflação medida pelo IHPC permanecerão muito baixas no curto prazo. A inflação homóloga medida pelo IHPC deverá aumentar em torno da viragem do ano, também em virtude de efeitos de base associados à queda dos preços do petróleo no final de 2014. Prevê-se que as taxas de inflação registem nova subida no decurso de 2016 e 2017, apoiadas pela esperada recuperação económica, a transmissão de anteriores descidas da taxa de câmbio do euro e os pressupostos preços do petróleo um pouco mais elevados nos próximos anos, presentemente refletidos nos mercados de futuros de petróleo. Existem, contudo, riscos em sentido descendente, decorrentes das perspetivas económicas e da evolução dos mercados financeiros e de matérias-primas, que podem abrandar ainda mais o aumento gradual das taxas da inflação no sentido de níveis mais próximos de 2%. Estes riscos estão a ser acompanhados de perto pelo Conselho do BCE.
No que respeita à análise monetária, dados recentes confirmam um crescimento sólido do agregado monetário largo (M3), não obstante uma descida substancial da taxa de crescimento homóloga do M3 de 5.3% em julho para 4.8% em agosto. O crescimento homólogo do M3 continua a ser principalmente apoiado pelas suas componentes mais líquidas, tendo o agregado monetário estreito M1 registado uma taxa de crescimento homóloga de 11.4% em agosto, face a 12.2% em julho.
A dinâmica dos empréstimos continuou a melhorar. A taxa de variação homóloga dos empréstimos às sociedades não financeiras (corrigida de vendas e titularização de empréstimos) aumentou para 0.4% em agosto, tendo subido de 0.3% em julho, prosseguindo uma recuperação gradual desde o início de 2014. Não obstante estas melhorias, a dinâmica dos empréstimos às empresas continua a refletir a relação desfasada com o ciclo económico, o risco de crédito, fatores associados à oferta de crédito e o ajustamento em curso dos balanços dos setores financeiro e não financeiro. A taxa de crescimento homóloga dos empréstimos às famílias (corrigida de vendas e titularização de empréstimos) subiu para 1.0% em agosto de 2015, face a 0.9% em julho. O inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito da área do euro relativo ao terceiro trimestre de 2015 confirma o aumento da procura de empréstimos bancários, apoiado pelo nível geral das taxas de juro, pelas necessidades de financiamento para fins de investimento e pelas perspetivas para o mercado da habitação. Além disso, a restritividade dos critérios de concessão de empréstimos às empresas registou nova diminuição, nomeadamente devido às crescentes pressões concorrenciais na banca de retalho, tendo, ao mesmo tempo, registado um ligeiro aumento no tocante aos empréstimos às famílias para aquisição de habitação. No geral, as medidas de política monetária implementadas desde junho de 2014 apoiam claramente a melhoria tanto das condições de concessão de empréstimos às empresas e às famílias como dos fluxos de crédito na área do euro.
Resumindo, o cruzamento dos resultados da análise económica com os sinais fornecidos pela análise monetária aponta para a necessidade de implementar com determinação as decisões de política monetária do Conselho do BCE e de acompanhar atentamente toda a informação disponibilizada pertinente no que diz respeito ao impacto dessas decisões nas perspetivas de médio prazo para a estabilidade de preços.
A política monetária visa a manutenção da estabilidade de preços no médio prazo e a sua orientação acomodatícia apoia a atividade económica. Contudo, para colher todos os benefícios das medidas de política monetária, é forçoso o contributo decisivo de outras áreas de política. Dada a persistência do elevado desemprego estrutural e do baixo crescimento do produto potencial na área do euro, a retoma cíclica em curso deve ser apoiada por políticas estruturais eficazes. Em especial, iniciativas destinadas a melhorar o enquadramento empresarial, incluindo a disponibilização de uma infraestrutura pública adequada, são vitais para aumentar o investimento produtivo, impulsionar a criação de emprego e aumentar a produtividade. A implementação rápida e eficaz de reformas estruturais, no contexto de uma política monetária acomodatícia, conduzirá não só a um maior crescimento económico sustentável na área do euro, como fará também subir as expetativas de rendimentos permanentemente mais elevados e acelerará os benefícios das reformas, tornando assim a área do euro mais resistente a choques mundiais. As políticas orçamentais devem apoiar a recuperação económica, continuando, porém, a ser compatíveis com as regras orçamentais da União Europeia. A aplicação integral e coerente do Pacto de Estabilidade e Crescimento é crucial para a confiança no nosso quadro orçamental. Paralelamente, todos os países devem esforçar-se por prosseguir políticas orçamentais com uma composição favorável ao crescimento.
Estamos agora à disposição para responder a perguntas.
Para a formulação exata acordada pelo Conselho do BCE, consultar a versão em língua inglesa.
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